Religião e crianças
29/11/12 20:08
Ultimamente tenho me indagado sobre como as crianças são apresentadas à religião. Não vou entrar aqui no mérito de qual religião (ou não) os pais seguem, mas a questão é: como é essa entrada no universo do sagrado? Ela é necessária? Como ela se dá? De maneira lúdica ou dogmática? As crianças tem uma dimensão real desse assunto? Ou isso não importa?
Não tenho nenhuma resposta para essas questões. Tenho algumas ideias à partir de algumas conversas que tive e situações que observei. A primeira é que a religião pode realmente ser um refúgio para alguém numa situação de solidão e abandono, e isso pode acontecer até com as crianças. A segunda, é que muita desgraças desses mundo são perpetradas em nome dela. Uma coisa que eu vejo em casa é que a ideia de algo maior cai bem, quero dizer, ajuda, talvez não a explicar mas a deixar um pouco menos distantes coisas que o Benjamim não entende direito. Mas até aí, são tantas as coisas que ele não entende ainda (e tantas outras que eu acho que ele não entende, mas é óbvio que ele saca), que a religião não vai ser a resposta para isso. Nem a não-religião. Eu cresci numa casa laica, de um pai judeu e uma mãe protestante não praticantes e bem ateus, escolhi me converter ao judaismo aos 13 anos e com o tempo, na bem da verdade, acabei não acreditando muito em nada. Nem mesmo numa noção mínima necessária de sagrado.
E às vezes eu me pergunto se eu perdi alguma coisa. É bem possível que sim. Para azeitar o samba do criolo doido daqui de casa, o pai do Benjamim é de uma família católica não praticante, então, realmente, religião, apesar de várias aqui no nosso terreiro, não é o forte. E como é que é na casa de vocês? É uma questão? Não? Vai no automático? É pensado?
Acho que o assunto merece mais posts e questionamentos, espero que gere uma boa discussão aqui nos comentários. Sem ódios e intolerâncias religiosas, por favor!
Meus pais eram católicos não praticantes. Eu fiz primeira comunhão mas comecei a me estranhar com a conversa dos padres aos 12 anos. Não tenho vocação para dependência intelectual, então, bem rápido a idéia de Deus deixou de fazer sentido.
Eu sempre penso assim: se Deus não existisse, eu, a partir da minha experiência de vida, jamais o teria inventado.
Meu enteado, de 31 anos, cresceu me ouvindo dizer, desde os 8 anos, que Deus não existe. Mais: eu atribuia os grandes terremotos e tsunamis com centenas de milhares de mortos a Deus, nos mesmos termos de quem louva a Deus, assim: “Graças a Deus houve esse tsunami e morreram 200.000 pessoas”.
Agora o resultado disso: meu enteado, que hoje tem 31 anos, acredita em Deus!…rsrsrs.
E por último mas muito importante: não sei se minha esposa acredita em Deus porque nunca perguntei! – e estamos juntos há 10 anos.
Essa história de Deus é uma não-questão por aqui.
Álvaro, acho que na verdade eu estou perguntando, assuntando mais do sentido místico da religião. Não tanto do dogma, do ensinamento, mas da sensação do divino que ela pode nos trazer, sabe? Meio que a noção de que a gente é minúsculo e que tem alguma coisa (que pode até ser o acaso!) acima de nós e a sensação que isso dá, que eu acho que é boa, como é que apresentamos ela às crianças, se é que fazemos isso. beijos
olha clá, aqui em casa começamos pela oraçnao ao anjinho da guarda… ser ecumênico, que possui representante em quase todas as religiões. começamos no entanto à moda antiga, com uma oração católica que minha vó me ensinou. a surpresa veio desde o primeiro dia, pois eu que achei q ia ensinar algo, acabei aprendendo. quando cheguei no final da oração quando se diz: em nome do pai, do filho e do espírito santo – fui veementemente corrigida pelo fran. “isso tá errado mamãe! o certo é em nome do pai, da mãe, do filho e do espírito santo” e ao reproduzir os gestos q pra mim foram mecânicos desde a infância, ele ao falar mãe e por a mão na boca, me fez ver que o sagrado era mais entendido por ele que por mim… ele tinha então 3 anos. 🙂
Duda, pois é, é um pouco disso que eu fiquei pensando. Será que eles já não tem isso instintivamente e a gente, ou o mundo, acaba por extirpar essa noção inconsciente deles?
Sou de uma família católica. Quando criança, tive o sonho de ser freira. Na adolescência comecei a ler a bíblia e percebi que não via na igreja a prática das escrituras, então, desisti de ser freira. Na juventude, resolvi ler novamente a bíblia, mas fiz uma oração antes, pedindo que o Espírito Santo revelasse as escrituras para mim. Deu certo, tudo que leio nela é muito real e claro. Ainda não tenho filhos, mas quando resolver tê-los, irei instrui-los no conhecimento da palavra de Deus, pois ela é muito verdadeira. Ela diz quem é Deus e nos dá um manual de como devemos viver! Sou feliz praticando-o. Hoje sou evangélica, pois encontrei numa igreja protestante a busca real pela prática dos ensinamentos bíblicos e essa com certeza foi a melhor escolha da minha vida, e esse caminho pretento ensinar aos meus filhos! É maravilhoso crer em Deus, mas o bom mesmo é conhecê-lo! E eu o conheço não de ouvir falar e quero muito que meus filhos tenham essa grande experiência.
(Desculpem-me, postei novamente para corrigir alguns erros de digitação)
Diene, que interessante a sua experiência! Mas como será que você irá passá-la aos seus futuros filhos? A pergunta,na verdade é essa. A sua experiência é muito própria, como será que você irá transmitir essa parte do maravilhamento, ou da compreensão a eles? Será que ela é um caminho pessoal ou ele pode ser ensinado? E esse ensinamento está nas regras ou nas intenções?
Acho importante rezar, pedir proteção, se sentir protegido, e principalmente agradecer, ao universo que seja.
Quando rezamos nossa vibração muda, nos acalmamos. Minha experiência na umbanda, com os pontos, e os mantras, tanto do trigueirinho, quanto do budismo tibetano, transformou muita coisa ao meu redor.
Me espiritualizei e me sinto leve. Eu não tenho filhos, mas acredito que quando tiver vou sim querer que ele se relacione com o anjo da guarda, com os mentores e protetores, mesmo que de uma forma lúdica.
Minha mãe, por exemplo, sempre se relacionou com vários tipos de religiões sem se apegar, mas estudar, conhecer, ir lá ver. Sempre me deixou livre pra ver se me interessava ou não. Na católica, fiz primeira comunhão, mas sempre foi superficial minha relação, até que passei mal uma vez dentro de uma igreja no caminho de Santiago e algo me disse que não tinha a ver comigo aquele tipo de energia. É pesada demais. O caminho de Santiago é incrível, minha passagem por lá não tinha nada de religioso, mas descobri ali uma vida espiritual e me transformei, eu tinha 19 anos. E fico longe de igrejas católicas… Conheci o budismo, o espiritismo kardecista, a umbanda, algo da teosofia e o trigueirinho, e percebi que não importa a religião, elas na essência dizem a mesma coisa.
O que importa é a consciência da vida interior, dos corpos mais profundos, não o corpo material, mas o corpo astral, o nosso campo eletromagnético que está interligado com a terra e com os reinos animais, vegetais e muitos outros.
E acho que quando tiver um filho sim vou ensinar pra ele que ele sim é responsável por absolutamente tudo que acontece em sua vida. Vou ensinar que suas ações e principalmente seus pensamentos geram formas poderosas que existem e é possível escolher e construir que tipo de caminho se vai enveredar. E que temos que cuidar dos nossos pensamentos, da qualidade deles, pra não fazer mal pra nós ou p outras pessoas. E que tudo que fazemos de uma forma ou outra gera reação, e isso não tem nada a ver com moral, mas com equilíbrio.
O próprio desequilíbrio em algum momento é necessário, aliás, estamos sempre desequilibrados e isso de alguma forma é o que nos define como humanos, e tudo que é ruim gera aprendizado, dor e sofrimento: aprendizado.
E tá tudo meio interligado eu acho, a religião formal, que cobra e reprime, perto de tudo isso, desse universo tão poderoso, é uma meleca, e pode ser bem prejudicial inclusive. Mas cada um tem um caminho e isso é lindo.
beijo Clá
Camile, acho que talvez o caminho seja por aí mesmo. Saudade!
beijos
Eu acho que essa história de “apresentar” a religião à criança é só mais uma forma de lavagem cerebral. O certo é esperar a criança ter maturidade para entender algo tão abstrato e tirar suas próprias conclusões.
Marcelo, discordo contigo no ponto da maturidade. As crianças são bem mais espertas do que achamos, aliás, pela minha pouca experiência no assunto, os caras dão um baile na gente. A minha questão não é tanto a religião em si, os dogmas e coisa tal, mas sim a noção de sagrado. Apesar de abstrata, ela existe e para muitos, é reconfortante. Talvez, o que eu esteja questionando na verdade seja essa apresentação da religião que é a lavagem cerebral. Não estou nem pondo em questão o fato das maiores desgraças feitas pelo homem serem todas em nome de algum deus ou de alguma religião, longe disso. Mas, levando em conta que grande parte das crianças será inserida num universo religioso desde cedo (isso é do foro íntimo dos pais, não nosso), será que existe uma maneira desse contato ser com algo mais verdadeiro, que traga o real sentido da experiência mística? Não sei direito, são elocubrações. bj
Para variar, cresci em família católica, mas não muito lá praticante. Não fui obrigado a fazer catequeze por exemplo. Mas minha mãe praticamente me alfabetizou com um livro que nunca esqueço : “Meu Livro de Histórias Bíblias”, feito para introduzir o cristianismo nas crianças. É claro que eu ADORAVA o livro. Achava assim fantásticas aquelas histórias sobre gigantes, o Mar Vermelho fechando e matando todo mundo lá dentro, a destruição de Sodoma e Gomorra, e todas estas coisas “maravilhosas”. Gostava mesmo destas partes, mas estranhamente, o livro perdia a graça quando chegava na parte sobre Jesus. A partir dali, nada de tão fantástico acontecia. Eu realmente perdia a vontade de ler justamente na parte que deveria ser assim “a mais importante.” Bom, os anos se passaram, me formei, e, chegando na Era da Informação – e eu sendo, e sou, bastante curioso – fui ler coisas sobre o Big Bang, Mecânica Quântica, Teoria da Relatividade Geral, formação planetária, viagem da luz no tempo, Evolução das Espécies, Biologia, indo até mesmo para a Filosofia, tentando entender Kant, Nietzsche entre outras leituras. Bastou para eu que entrasse na Idade da Razão. Hoje, como disse Charles Chaplin, não acredito em Deus por puro bom senso. A Ciência me coloca em uma posição para poder dizer que as religiões são tão infantis quanto os próprios homens que as criaram, em um mundo onde não se sabia de quase nada, nem sobre o próprio mundo, nem sobre o Universo onde estamos. Em pleno século XXI, na Era da Informação, a ignorância é uma escolha.
Ahhh, mais uma, procuro espalhar conhecimento das maiores descobertas da humanidade sobre o Universo no meu canal do Youtube de mesmo nome que o meu. Sejam bem vindos !
Luc, a questão não é se a religião é uma coisa infantil ou não, até porque, você já pensou que, se tem tanta gente no mundo que acredita em algum deus ou deuses, alguma coisa deve existir aí, alguma recompensa, não é só porque a humanidade é um bando de carneirinhos dóceis pronta para ser encaminhada para o abatedouro por um pastor maluco. Não concordo com você que a escolha por uma religião sera a escolha pela ignorância, porque assim você está nivelando tudo por baixo, está nivelando tudo pelo obscurantismo que rege uma parcela pequena das população (pelo menos é assim que eu acredito). Não acho que o compreendimento científico exclua uma vontade ou necessidade do sagrado na vida, que podem até ser obras de ficção, do imaginário coletivo. Pode ser a coisa mais humana de todas (aliás, se bobear, é isso aí, pura ficção que reconforta a muitos, não todos). Sei lá, não queria enveredar pela questão do obscurantismo religioso X clarividência atéia, porque não é essa a questão! bj
Olá Creichstul, respondendo suas estimadas linhas. Se alguma coisa deve existir, então o que é ? Se a maioria afirma tanto, quais são as evidências reais e verdadeiras de tal entidade ? Uma vez um colega meu me disse “quase 100% dos cientistas não acredita e deus ou deues, mas é porque a unanimidade é burra”. Então eu disse. “o mesmo vale para a grande maioria que acredita em um.” (aliás considero esta frase do NR bem infeliz). Mas talvez você tenha razão ! Afinal, na ponta dos últimos acompanhamentos em Cosmologia, podemos estar vivendo em um de talvez infinitos universos, ou em 4 das 11 dimensões que talvez existam pela Teoria das Cordas. E é isso, o que a Ciência traz, pelo uso da razão, que ilumina. Temos provas ? Ainda não, mas na matemática, é possível. Se eu acredito ? Tão somente quando tivermos evidências. E a maioria das pessoas tem um bocado de dificuldade de compreender esta pequena palavra : evidência. A humanidade aos poucos passa por transformações lentas, mas duradouras, e essas transformações serão pelo puro prazer em conhecer e saborear os frutos da Ciência, assim espero. Em saber que cada átomo do nosso corpo foi gerado pelas estrelas. O Universo é do jeito que é quer gostamos disto ou não. Então, quando alguém nos diz que o certo é, por exemplo, acreditar em uma serpente que fala, ou que um homem viveu dentro de uma baleia por três dias, tem algo muito errado aí. Por que ? De novo, a falta absoluta de evidência. Ah, alguém poderia dizer, a Bíblia é a prova. E é justamente aí, neste ponto exato, que posso dizer sim, que as religiões são tão infantis quanto os homens que a criaram. Nada se auto-sustenta pela falta de evidência. Porém, é bem aí que a grande maioria das pessoas, quer seja pelo apelo a emoção, pelo sentimento de culpa, ou por mera vontade de fazer parte de um grupo, que se desfazem da razão para entrar no ato irracional de achar que estas coisas são sim verdadeiras. Fora a eterna arrogância de se acharam “especiais” “os escolhidos de Deus”. Percebo que esta é a mistura que, como bem dizia Nietzsche, tira a humanidade de sua verdadeira realidade, e da sua infinita e humilhante pequenês no Universo. Um abraço !
Luc,
quando escrevi ” se tem tanta gente no mundo que acredita em algum deus ou deuses, alguma coisa deve existir aí, alguma recompensa”… eu estou me referindo ao conforto emocional, não à existência ou não de deuses. Deus me livre falar uma coisa dessas, ahahaha! Vou muito mais na linha do Roger Vergé que ao mergulhar na religião Yorubá nunca se esqueceu de sua formação científica, e nem por isso essa mesma formação o impediu de apreciar e praticar os ritos africanos. Enquanto depositárias do imaginário humano, as religiões são sim fonte de conhecimento criado pelo homem, é óbvio. Elas documentam relações e conflitos humanos ao longo de séculos. Enfim, de novo, não era nessa seara que eu queria entrar, até porque a sua citação de Nietzsche tem a ver com o que eu penso que essa noção de sagrado deva ser justamente a percepeção da nossa infinita pequenês no Universo.
um beijo,
Clarice
O conforto emocional pode haver apoiando-se nos amigos e na família. Não vejo motivo pra alguém se debruçar na fé. Isso é prejudicial a ela mesma como aos outros. Essa pessoa vai tomar uma ilusão como verdade e ainda querer forçar os outros a seguir o mesmo caminho. Um exemplo são os protestantes, que todo o mundo sabe, são insistentes, não perdem NENHUMA oportunidade de falar de Jesus. Tem pessoas que até no ambiente de trabalho inserem sua religião nas conversas. Isso acaba afastando aqueles que têm equilíbrio. Afinal quem gosta de ficar ouvindo: “Fulano, eu tô com medo.” Vem o protestante e responde: “Medo? Isso é coisa do Diabo. Vá orar.”
Com todo o respeito, penso q nenhuma religião deva ser “apresentada” a nenhuma criança. Os líderes religiosos, naturalmente, discordarão disso, pois eles sabem q esse é o método mais eficaz de aumentar seus rebanhos. Mas a verdade é q as crianças não precisam de religião, precisam é de uma educação q desenvolva a sensibilidade e o respeito para com o próximo e com seu ambiente. Essa é a única “religião” q ainda pode prometer alguma “salvação” para a humanidade, e ela só pode ser ensinada de uma forma: por meio do exemplo.
No mais, Clarice, se vc perdeu alguma coisa em não ter sido exposta a uma educação religiosa na infância, foi apenas o possível rancor q vc poderia ter contra ela na vida adulta, como confessou Bertrand Russell. O maravilhamento com o Universo ou com a arte pode substituir plenamente qualquer experiência mística.
Abç a todos
Perfeito Mauro, é exatamente o que penso e que digo quando me perguntam se não vou apresentar alguma religião a minha filha. Sou ateia, mas cresci numa familia católica. Fui batizada, fiz 1º comunhão e larguei tudo com 12 anos… nunca acreditei em nada do que me contaram. É obvio que batismo, catequese, 1º comunhão, é o melhor jeito de garantir seu rebanho. A igreja é esperta… É uma lavagem cerebral monstruosa feita num serzinho inocente que ainda se encontra no berço. Eu sou completamente contra esse ato. Quer oferecer ensino religioso as crianças? ok…. Mas façam-o na adolescência, quando a criança já tiver maior discernimento e fale sobre todas as crenças, sem desmerecer nenhuma, fale inclusive sobre ateísmo, e deixe que a esta pessoa, quando atingir sua maturidade, escolha seu próprio caminho.
Liza, entendo o que você diz, mas, bom, não sei se batismo é uma lavagem cerebral, porque o bebê não entende nada do que está se passando ali, a cerimônia nesse sentido é muito mais para os pais do que para a criança, né? Mas o meu questionamento é em outra área, não no dogma, mas na noção do sagrado. Que é inerente a todas as religiões, não só a católica. O que eu questiono é justamente o tipo de ensinamento que você teve, que acaba sendo vazio, não é? Porque afinal das contas, com 12 anos você não quis mais saber do assunto, ou seja, tem algo de muito errado ali (sem julgamento de valores, tá? É só uma constatação!). Eu não sei se você tem filhos ou não, mas apesar de concordar com você que temos que ser apresentados a diversar crenças, inclusive o ateísmo, tenho que discordar na questão da adolescência, porque eu acho que as crianças tem sim discernimento, aliás, muito maior do que a gente percebe. Mas como escrevi antes, a pergunta é sobre o sagrado, o contato com o sagrado, que eu acho que é importante e não necessariamente ligado ao ensinamento religioso padrão! bjs
Mauro, perfeito….
Mauro, entendo o que você está dizendo. Mas não estou pensando na educação religiosa formal. Também não estou pensando se as crianças precisam de religião. Mas, sendo ela parte importante de grande parcela da humanidade, e sabendo que a introdução à ela quase sempre é dogmática, como fazer com que elas tenham acesso ao que é interesante dela, que é esse respeito real e profundo pela vida? Entende o que eu estou procurando? Talvez seja a questão da experiência mística, eu não sei direito. Mas, despida dos dogmas, como é que se apresenta a noção do sagrado? Que eu acho que é o que pode importar mais no final das contas. Quando eu me pergunto se eu perdi algo, é mais em relação a isso, não à educação religiosa, sabe?
oi Clarice querida,
nós em casa nunca pensamos em apresentar nenhuma religião para o Jota. Mas a meus pais católicos apresentaram com empolgação. Depois, na escolinha, em contato com as outras crianças, o Jota ainda recebeu vários ‘ensinamentos’. Nosso papel foi mais reativo, tentando contextualizar o que ele ‘aprendia’ fora de casa e mostrando como as outras culturas lidam com essa questão. Hoje ele me parece um ateu interessado em variados conceitos, práticas e culturas religiosas, talvez mais pelo simbolismo e pelos aspectos sociais que carregam do que por algum tipo de conforto emocional ou espiritual.
Baixo, estabeleci essa conversa no feice também, e o Eric, uma das pessoas que entrou na conversa ressaltou uma coisa muito interessante: a angústia de se querer apresentar o filho para o sagrado (não importanto tanto qual seja a religião) se esse sagrado não faz parte da vida dos pais. Talvez seja uma piração essa questão, talvez uma culpa de ateu, sei lá. Conversa longa e sem resposta certa, né? beijos
Como a grande maioria dos brasileiros, fui apresentado à religião pela obrigação. De familia católica, fui batizado, catequisado, crismado e tudo mais. Mas nunca, nunca fui questionado.
Com o tempo, a adolescencia, a entrada no mundo real, parei com tudo. Simplesmente não encaixava. Não podia estar num “clube” onde eu era uma aberração. Onde eu era uma pessoa errada por ser quem sou (pois é, sou gay).
Um dia, na minha crisma, encontrei o padre que havia me catequizado. Lembro bem do Padre Pascoal; neste dia ele chegou num carro lindo, vermelho, com a loira a tira-colo. Qd nos falamos ele foi enfático, disse algo do tipo “Saia da igreja. Você sempre teve algo de diferente, de desafiador, assim como eu. Demorei anos pra entender que não preciso de alguém me doutrinando, me liderando. Somos lideres de nós mesmos. Deus quer isso; lideres, não ovelhas. A igreja, pelo contrário, quer somente ovelhas. Viva, seja quem vc é, sem medo.”
E isso é o que a religião é pra mim: lideres de ovelhas que precisam de um pastor. Eu, sou o pastor, a ovelha, a cerca…
Marcos,
você encontrou o seu sagrado sendo seu pastor, ovelha e cerca? Acho que sim, né? Mas o que você escreveu é justamente a questão. E acho que o Padre Pascoal te deu a chave! bj
“Fantástico”.