Ruas de Varsóvia
20/07/13 00:01Ando pelas ruas de Varsóvia, na Polônia, ouvindo esta língua estranha que é o polonês: cheia de “jotas”, “zês”, “vês” e “dáblius”. Lembro de dona Wala, minha avó, que viajou daqui para o Brasil, já com filhos pequenos, depois que a guerra terminou.
Passei a vida ouvindo minha avó falar nesse idioma com as amigas, com meu pai, com sua irmã. Mas, mesmo sem entender nada, ele me soa reconfortante, como se uma parte de mim pertencesse a esse país distante.
Aqui, em cada refeição me lembro dela. Seja nos pierogis (pequenos raviólis de batata e queijo), seja na torta de maçã com creme de leite que vem de acompanhamento.
Os rostos e os nomes das pessoas também me parecem familiares, como se eu estivesse finalmente encontrando primos que nunca tive ou vi. Na feira, me deparo com coisas que só sabia da existência pela lembrança de minha avó –e que para nós, acostumados com frutas e legumes de um país tropical, são tão exóticas e fascinantes que os amigos poloneses ficam admirados quando digo que nunca vi cerejas numa cerejeira (aliás, não fazia ideia de como era essa árvore).
Minha avó morreu há alguns anos, mas continua viva em todos os sentidos na minha lembrança. Fico triste de não ter perguntado mais e insistido em conhecer os detalhes nem sempre felizes de sua história. Varsóvia me responde algumas dessas perguntas que ficaram sem respostas, mas não todas.