Tchau, vovô Lício
10/08/13 00:01O Velório Municipal do Barreiro é um prédio simples. É ali que, sentados em bancos de cimento, no pequeno pátio, familiares e amigos velam seus mortos.
Vovô Lício estava no caixão, coberto de flores e com uma camiseta do time América sobre o peito. Benjamim entrou correndo na salinha, queria ver o que todos estavam olhando. Seu pai ficou aflito, com medo da reação do menino frente ao morto.
Esse é um medo comum entre nós, os adultos. Benjamin chegou bem pertinho da cabeça do avô. Primeiro, um pouco ressabiado. Depois, já estava mais à vontade.
Perguntei se ele estava com medo. “Não, eu não estou com medo. Estou triste.” Ao longo do velório, ele foi e voltou ao caixão. Deu beijo, contou segredos e fez carinho no corpo do homem que não estava mais lá. Nessas idas e vindas, se despediu.
A tristeza, durante o velório, se mistura ao papo do dia a dia, como se ela tivesse um certo prazo de validade. Nem a dor mais doída resiste ao riso frente ao comentário sobre a filha da vizinha do avô, que morreu naquela manhã tão linda, em que o sol convidava todos a viver a vida sob sua luz.
A dor vem em ondas e assim também se vai. Uma hora, chora abraçado na avó. Em outra, brinca de coceguinhas com o André.
Pois é, o vovô Lício mágico se foi. E, além das saudades, ele deixou meia dúzia de adivinhas sem respostas para a gente resolver.