Pisa na risca
14/09/13 00:01—Pisa na risca, só na risca.
—Agora não pode pisar mais na risca. Não ouviu, mãe? Não pode!
—Tá, tô tentando.
—Só no branco!
—Mas não tem mais branco daqui até lá. Tem preto, marrom, rosa. Mas nada de branco.
—Hummmm, então só pisa na pedra preta.
Sempre me assombro com o quase TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) que acompanha essa brincadeira enquanto andamos. Se deixar, lá estamos nós pisando só na linha ou fora dela, nos quadrados pretos ou nos brancos, nas muretas ou nas gramas. “Na grama, não, mãe. Tem muito cocô de cachorro.” Ah, é… Nesses a gente não pisa nem morto, só por distração.
No caminho para a escola, no corredor do shopping center, é só ver uma mudança de padrão que a gente já começa a desenhar caminhos cada vez mais difíceis com os pés, pulos e saltos cada vez mais elaborados. Em um instante, estamos dançando uma dança maluca que invariavelmente envolve o atropelamento de um transeunte despercebido.
Jogos, caminhos, brincadeiras e veredas. Sabe o que são veredas? São caminhos estreitos, que, nessa brincadeira, são abertos passo a passo na selva urbana de São Paulo (ou de qualquer outro lugar). No “pisa-risca”, somos exploradores espaciais não satisfeitos com os caminhos que já foram abertos, sempre procurando por mais.