CafunéVersão impressa – Cafuné http://cafune.blogfolha.uol.com.br por Clarice Reichstul Mon, 18 Nov 2013 13:27:24 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Viagem no tempo http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/09/21/viagem-no-tempo/ http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/09/21/viagem-no-tempo/#respond Sat, 21 Sep 2013 03:01:52 +0000 http://cafune.blogfolha.uol.com.br/?p=1193 Continue lendo →]]> Ganhei uma máquina de escrever de um antigo amigo. Ela é pequena e portátil, vem numa malinha de couro cor de vinho e creme, e suas teclas são pretas com as letras em branco.

Quando recebi a máquina, já fui logo tentando teclar qualquer coisa com ela. Mas as teclas eram muito duras, e eu fazia uma força danada com os dedos. Depois de cinco minutos, já ficava com a mão toda dolorida. Ela estava precisando de uma revisão geral para poder ser usada.

Até que um dia fui ao Poupatempo. Lá pertinho, descobri um lugar todo empoeirado, com um monte de coisas amontoadas e uns senhores de jalecos sujos. Na Casa Pema, consertam-se máquinas de escrever de todos os tipos, das mecânicas às elétricas, além de calculadoras, impressoras, retroprojetores e outros cacarecos do século passado.

É como entrar num misto de túnel do tempo com oficina de mecânico maluco. Dá vontade de passar o dia por ali examinando cada uma delas, saber para que servem, como funcionam e tudo mais. Depois de uma estada por ali, minha máquina de escrever está tinindo de nova e pronta para ser usada!

Bom também é bater um papo com o “seu” Luiz, dono de lá. Ele conhece tudo sobre as máquinas, conta causos, explica como cada uma funciona, mostra como faz… Enfim, é uma aula de século 20 para quem já nasceu no 21.

Vá até lá, vale a pena! Fica na rua do Carmo, 156, no centro de São Paulo. Bem pertinho da praça da Sé.

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Pisa na risca http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/09/14/1173/ http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/09/14/1173/#respond Sat, 14 Sep 2013 03:01:05 +0000 http://cafune.blogfolha.uol.com.br/?p=1173 Continue lendo →]]> —Pisa na risca, só na risca.

—Agora não pode pisar mais na risca. Não ouviu, mãe? Não pode!

—Tá, tô tentando.

—Só no branco!

—Mas não tem mais branco daqui até lá. Tem preto, marrom, rosa. Mas nada de branco.

—Hummmm, então só pisa na pedra preta.

Sempre me assombro com o quase TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) que acompanha essa brincadeira enquanto andamos. Se deixar, lá estamos nós pisando só na linha ou fora dela, nos quadrados pretos ou nos brancos, nas muretas ou nas gramas. “Na grama, não, mãe. Tem muito cocô de cachorro.” Ah, é… Nesses a gente não pisa nem morto, só por distração.
No caminho para a escola, no corredor do shopping center, é só ver uma mudança de padrão que a gente já começa a desenhar caminhos cada vez mais difíceis com os pés, pulos e saltos cada vez mais elaborados. Em um instante, estamos dançando uma dança maluca que invariavelmente envolve o atropelamento de um transeunte despercebido.

Jogos, caminhos, brincadeiras e veredas. Sabe o que são veredas? São caminhos estreitos, que, nessa brincadeira, são abertos passo a passo na selva urbana de São Paulo (ou de qualquer outro lugar). No “pisa-risca”, somos exploradores espaciais não satisfeitos com os caminhos que já foram abertos, sempre procurando por mais.

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Feliz aniversário Folhinha! http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/09/07/feliz-aniversario-folhinha/ http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/09/07/feliz-aniversario-folhinha/#respond Sat, 07 Sep 2013 04:19:25 +0000 http://cafune.blogfolha.uol.com.br/?p=1169 Continue lendo →]]>
Em 8 de Setembro de 1963, as crianças andavam interessadas numa porção de coisas que hoje parecem do arco da velha. Por exemplo:  meninos e meninas recebiam dicas de roupas adequadas para festas, almoços e visitas à casa de amigos dos pais. Inclusive dicas de como se comportar e ser bem educados. Já pensou? Hoje isso pareceria conselho de tia avó que manda a gente pentear o cabelo.
Também se tinha notícia de kits de ciência e astronomia distribuídos às escolas americanas, onde as crianças montavam o sistema solar com todos os seus planetas orbitando ao redor do sol. As sugestões de leitura eram engraçadas e sempre terminavam com um “não deixe de pedir ao papai quando ele estiver voltando da cidade!” (que devia significar o centro da capital). Também tinha um monte de papais e mamães, os papais trabalhavam fora e as mamães cozinhavam e cuidavam da casa. Quanta coisa mudou, né?
Na página dedicada à literatura se explicava quais eram as profissões ligadas à edição de livros, o que eu achei particularmente legal. Aliás, tinha-se uma grande preocupação com o que você viria a ser, e lá se tratava de explicar uma porção de profissões, de jardineiro a advogado.
Em 1963, Maurício de Souza assinava os seus quadrinhos só como Maurício e as palavras cruzadas eram a coisa mais fácil de se solucionar. Em 50 anos tanta coisa muda, espero que tenhamos mais 50 pela frente. Feliz aniversário, Folhinha!
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Caixa postal http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/08/31/caixa-postal/ http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/08/31/caixa-postal/#respond Sat, 31 Aug 2013 03:01:36 +0000 http://cafune.blogfolha.uol.com.br/?p=1158 Continue lendo →]]> Recebi nesta semana uma carta de uma turma de alunos do 3º ano da escola Shunji Nishimura, lá de Pompeia, no interior de São Paulo. Que delícia que é receber uma carta pelo correio, escrita à mão, falando de meleca salgadinha e de outras nojeiras que são bem legais.

Fazia tempo que não recebia correspondência assim. É uma surpresa alegre quando você não está esperando. E gera uma baita ansiedade quando se está aguardando resposta. Dá vontade de olhar a caixa do correio a toda hora e perguntar ao guarda da rua se, por um acaso, o carteiro (no caso daqui de casa, é uma “carteira”!) já passou.

Como ia dizendo, recebi a carta e logo me coloquei a respondê-la. Já tinha selos aqui em casa, então achei que não precisaria ir a uma agência dos Correios; qualquer caixa postal na rua resolveria o meu problema.

Mas, para a minha grande surpresa, não encontrei nenhuma. Será que estão comendo as caixas de correio da cidade? Isso é um contrassenso, porque a única coisa que faria sentido nessa situação seriam caixas postais comerem cartas, e não o contrário.

Ainda acho uma caixa até amanhã e posto a minha carta. Para quem nunca recebeu uma, sugiro escrever uma mensagem para a amiga, amigo, avô, madrinha (e até para mim!).
Essa é a maneira mais certeira de receber uma em casa. E eu acho que todo mundo tinha que receber pelo menos uma carta nesta vida.

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Dentes-de-leão http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/08/24/dentes-de-leao/ http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/08/24/dentes-de-leao/#respond Sat, 24 Aug 2013 03:01:57 +0000 http://cafune.blogfolha.uol.com.br/?p=1149 Continue lendo →]]> Apanhar dentes-de-leão para assoprá-los requer toda uma ciência, que, através de anos e anos de experiência prática, hoje posso dividir com vocês.

O dente-de-leão, ou Taraxacun officinale (nome científico da planta), nada mais é do que uma florzinha amarela comum em qualquer mato. Quando assoprada, abre-se em globo de penugem voadora. São centenas de microparaquedas ou helicópteros que voam pelo vento carregando sementes.

Assoprar essas belezinhas é um prazer quase tão incrível quanto o de estourar maria-sem-vergonha, assoprar bolha de sabão, chupar jabuticaba ou comer uma amora sumarenta.

Se as sementes no globo da plantinha estão muito juntas ou se sua penugem está muito espessa, pode apostar que o dente-de-leão ainda não está maduro o suficiente. Então, elas não voam com uma assoprada. Geralmente você perde o fôlego, e nada de elas voarem.

Os bons mesmo são aqueles com o caule amarronzado, começando a ficar seco. Se você olhar o globo deles, poderá ver que os helicópteros estão meio separados. Ele é quase transparente, as sementes estão afastadas. Nos dentes-de-leão desse tipo, basta um sopro leve ou um simples movimento de mão para que os guarda-chuvinhas voem longe, bem alto, dançando no vento.

Mas não vá fazer a bobagem de assoprá-los contra o vento, pois voltarão na sua cara. Assim, não farão o que precisam: voar para longe do pensamento, levando um desejo de felicidade.

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Ideias de girino http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/08/17/ideias-de-girino/ http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/08/17/ideias-de-girino/#respond Sat, 17 Aug 2013 03:01:51 +0000 http://cafune.blogfolha.uol.com.br/?p=1128 Continue lendo →]]> Ideia de jerico ou de girino? Sempre ouvi dizer que ideia de jerico era ideia de burro. Aliás, jerico quer dizer burro mesmo. Mas venhamos e convenhamos que, se a ideia fosse de girino, ela seria muito mais burra, né?

Afinal, se você comparar o cérebro de um girino com o de um jerico, acho que o do burro ganha em disparada.

Mas você pode argumentar que tamanho não é documento. A gente às vezes é bem mais esperto do que um elefante ou uma vaca, que eu acredito que tenham cérebros muito maiores do que os nossos e do que os dos girinos, que são puro cabeção e um reles rabinho.

 

Mas pense na imagem!

Aquela cabecinha que a gente insiste em achar que é um peixinho estranho –mesmo que os anfíbios e os peixes sejam bichos completamente diferentes– faz parecer que uma ideia de girino é “ultra master blaster” menor do que a ideia de um jerico.

Tudo bem que o jerico empaca e o girino segue com a correnteza –se eu fosse zen-budista, acharia o girino bem mais esperto por causa disso.

Mas, e se eu fosse um girino e a correnteza me levasse a um brejo seco onde eu morresse esturricado? Se eu fosse jerico, teria empacado muito antes de chegar a essa lama. Empacar pode ser sinal de inteligência.

Um girino com corpo de jerico, um jerico com rabo de girino, o cérebro dá voltas e a ideia empaca, feito um jerico embirrado.

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Tchau, vovô Lício http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/08/10/tchau-vovo-licio/ http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/08/10/tchau-vovo-licio/#respond Sat, 10 Aug 2013 03:01:46 +0000 http://cafune.blogfolha.uol.com.br/?p=1107 Continue lendo →]]> O Velório Municipal do Barreiro é um prédio simples. É ali que, sentados em bancos de cimento, no pequeno pátio, familiares e amigos velam seus mortos.

Vovô Lício estava no caixão, coberto de flores e com uma camiseta do time América sobre o peito. Benjamim entrou correndo na salinha, queria ver o que todos estavam olhando. Seu pai ficou aflito, com medo da reação do menino frente ao morto.

Esse é um medo comum entre nós, os adultos. Benjamin chegou bem pertinho da cabeça do avô. Primeiro, um pouco ressabiado. Depois, já estava mais à vontade.

Perguntei se ele estava com medo. “Não, eu não estou com medo. Estou triste.” Ao longo do velório, ele foi e voltou ao caixão. Deu beijo, contou segredos e fez carinho no corpo do homem que não estava mais lá. Nessas idas e vindas, se despediu.

A tristeza, durante o velório, se mistura ao papo do dia a dia, como se ela tivesse um certo prazo de validade. Nem a dor mais doída resiste ao riso frente ao comentário sobre a filha da vizinha do avô, que morreu naquela manhã tão linda, em que o sol convidava todos a viver a vida sob sua luz.

A dor vem em ondas e assim também se vai. Uma hora, chora abraçado na avó. Em outra, brinca de coceguinhas com o André.

Pois é, o vovô Lício mágico se foi. E, além das saudades, ele deixou meia dúzia de adivinhas sem respostas para a gente resolver.

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Ensaio de dança http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/08/03/ensaio-de-danca/ http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/08/03/ensaio-de-danca/#respond Sat, 03 Aug 2013 03:01:20 +0000 http://cafune.blogfolha.uol.com.br/?p=1098 Continue lendo →]]> Bailarinas conversam em rodinha na coxia do teatro. Outras se alongam sobre o palco, enquanto um casal ensaia os passos de um “pas de deux”. O ensaio do Grupo Corpo vai começar.

Estamos na sede da companhia de dança, na cidade de Belo Horizonte, quando Benjamim logo pergunta: “Mãe, mas homem também usa sapatilha?”. Usa, ué. Sapatilha é sapato para quem dança, não importa o sexo.

A música começa seca e estranha. Os movimentos dos bailarinos seguem os compassos. Se você resolve viajar um pouco, é como se cada bailarina correspondesse a um instrumento musical. Corpos absurdamente fortes carregam outros corpos como se fossem feitos de plumas. “Olha mãe! O golpe do macaco! E duplo!”, diz Benjamin.

Bom, não é o kung fu que Benjamin estava pensando. Mas os movimentos também não são de balé clássico. Em vários momentos, nos surpreendemos com piruetas e saltos acrobáticos.

É verdade que ver o ensaio não é a mesma coisa que assistir a um espetáculo. Todos os bailarinos estão meio “mulambentos”, não é utilizada a mesma luz nem os mesmos figurinos e cenários. Mas, mesmo assim, somos transportados para um lugar mágico, onde a conversa é feita com braços, pernas e quadris.

A viagem é boa e saímos contentes. Se o Benjamim gostou? Mais tarde, no mercado, ele dançava imitando os movimentos vistos no ensaio. Acho que gostou, sim.

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O taxista cantor http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/07/27/o-taxista-cantor/ http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/07/27/o-taxista-cantor/#respond Sat, 27 Jul 2013 03:01:56 +0000 http://cafune.blogfolha.uol.com.br/?p=1077 Continue lendo →]]> Na cidade de Belo Horizonte, mais precisamente no bairro Jardim América, na rua Indiana com a rua Gávea, existe um ponto de táxi que guarda um segredo que poderia ser milenar, mas que tem só uns 50 anos de idade.

Não é um cachorro falante nem um carro movido a energia solar.

É o taxista cantor.

Sim, senhoras e senhores, na cidade que é capital do Estado mineiro, do leite e da mineração, vive seu José, taxista e cantor, cantor e taxista, não importa muito a ordem da nomenclatura.

É só você entrar no táxi dele e zás! Ele coloca pra tocar sua última obra, ainda em produção, sobre as maravilhas turísticas de 12 Estados brasileiros.

Dá-lhe tuiuiús, Pantanal e jacaré para o Mato Grosso. Maracanã, praia e a misteriosa Candelária para o Rio de Janeiro. Cana-de-açúcar, café e avenida Paulista para São Paulo. É, pessoal, o Brasil está cheio de maravilhas a serem descobertas.

Assim como seu José, que já gravou outros quatro CDs, todos eles a respeito das coisas que existem em Minas Gerais, como cidades, celebridades e clubes esportivos.

Neste último disco, porém, ele quis expandir os horizontes e resolveu falar de outros lugares. E não apenas de sua terra natal.

Olha, não sei dizer assim de pronto o quão bom é o disco do seu José. Mas o Benjamim foi sambando a corrida inteira e quase pediu o autógrafo do taxista cantor.

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Ruas de Varsóvia http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/07/20/ruas-de-varsovia/ http://cafune.blogfolha.uol.com.br/2013/07/20/ruas-de-varsovia/#respond Sat, 20 Jul 2013 03:01:08 +0000 http://cafune.blogfolha.uol.com.br/?p=1059 Continue lendo →]]> Ando pelas ruas de Varsóvia, na Polônia, ouvindo esta língua estranha que é o polonês: cheia de “jotas”, “zês”, “vês” e “dáblius”. Lembro de dona Wala, minha avó, que viajou daqui para o Brasil, já com filhos pequenos, depois que a guerra terminou.

Passei a vida ouvindo minha avó falar nesse idioma com as amigas, com meu pai, com sua irmã. Mas, mesmo sem entender nada, ele me soa reconfortante, como se uma parte de mim pertencesse a esse país distante.

Aqui, em cada refeição me lembro dela. Seja nos pierogis (pequenos raviólis de batata e queijo), seja na torta de maçã com creme de leite que vem de acompanhamento.

Os rostos e os nomes das pessoas também me parecem familiares, como se eu estivesse finalmente encontrando primos que nunca tive ou vi. Na feira, me deparo com coisas que só sabia da existência pela lembrança de minha avó –e que para nós, acostumados com frutas e legumes de um país tropical, são tão exóticas e fascinantes que os amigos poloneses ficam admirados quando digo que nunca vi cerejas numa cerejeira (aliás, não fazia ideia de como era essa árvore).

Minha avó morreu há alguns anos, mas continua viva em todos os sentidos na minha lembrança. Fico triste de não ter perguntado mais e insistido em conhecer os detalhes nem sempre felizes de sua história. Varsóvia me responde algumas dessas perguntas que ficaram sem respostas, mas não todas.

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