Lembra quando estudávamos o Arcadismo na aula de literatura brasileira da escola? Marília de Dirceu, Cartas Chilenas e aquelas outras coisas meio, hããã, soníferas? Os árcades, de saco cheio da cidade, resolvem propagandear a fuga ao campo, a vida mais simples e tal.
Venho aqui propor o movimento Fugere Maternitatem, ou melhor, Arcadismo Materno, ou melhor ainda, férias dos filhos!
No primeiro ano de maternidade, somos só preocupação e apego, afinal, temos que garantir que aquela vida que nasceu tão pequena e frágil (pelo menos em nossas cabeças acreditamos que bebezinhos são de cristal da Bavária) se desenvolva, cresça, aprenda coisas. São milhares de descobertas de tirar o fôlego, muitas primeiras vezes, aquela avalanche de emoções.
No segundo ano, as primeiras vezes continuam, muitas outras descobertas e coisas fofas e emocionantes, mas num volume um pouco menos estarrecedor, e nesse ponto, todo mundo já está bem mais escolado no assunto.
No terceiro ano o monotema maternidade começa a dar nos nervos e você se vê finalmente louca por um filminho no cinema, uma baladinha sem compromisso, ler um livro ou ouvir um disco inteiro, prestando atenção na música como você costumava fazer antes da gnomada aparecer. Nas festinhas infantis, que são infinitas, você começa a fugir das rodinhas de mães que falam mal da escola ou do método revolucionário para fazer a criança comer quiabos. Nessas alturas, aquela sua idéia de criar roupas pra criança já foi por água abaixo, afinal dá trabalho como todo o resto e trabalho por trabalho, você já tem o seu. E aquela vontade de postar todo dia no seu blog de mãe vai dando uma esfriada, porque parece… trabalho.
E a pressão vai aumentando e uma hora, se você for minimamente sã, o saco cheio explode e é hora de tirar férias do filho (e do marido – acredite, nesse ponto, ele já deu a sua escapada – pais são bem menos bobos que as mães).
Um fim de semana resolve, mas três dias é bem mais indicado, de preferência fora da nossa própria casa, na casa de algum amigo ou amiga que tem uma coleção de discos incrível, livros ótimos que você já tenha lido antes – assim você não tem a obrigação de terminá-los. O ideal é que chova ou que faça um sol ameno, o importante é não ter nenhuma obrigação, se quiser vagabundear a tarde toda na rede, pode, se quiser tirar um cochilo, pode também. Ir no parque talvez não seja uma boa, afinal, é férias de filhos e filhos = parque. Passar uma tarde no cinema também pode, mas não filme infantil, mesmo que você queira.
Ir pro bar e beber é quase obrigatório, afinal, nas suas férias, se você ficar de ressaca tudo bem, não tem que olhar criança no dia seguinte.
Lembre-se dos árcades e tudo dará certo:
Inutilia truncat (cortar o inútil) – não vá querer fazer muita coisa, quanto menos melhor!
Carpe diem (aproveitar o dia) – pode ser aproveitar o dia na horizontal, ninguém vai reparar!
Fugere maternitatem (fugir da maternidade) – nada de contato com ou conversa sobre crianças hein? Nem mesmo um meme de youtube, deixe isso pra depois!
Locus amoenus (lugar ameno) – cama, rede, praia, boteco, qualquer lugar que você possa ficar quieta ou falar pelos cotovelos se quiser!
Aurea mediocritas (equilíbrio do ouro) – menos é mais, um chicabon só pra você, uma bala que você não tem que comer escondida pro filho não passar vontade, um chuveiro sem hora pra acabar (a gente não é sócio da Sabesp pra ficar gastando água assim, mas nessas férias pode)!
Na volta, você até sente saudades da cria, do marido, da casa. Despressurizou, descansou e fica feliz da vida por voltar a padecer no Paraíso.